UNIÃO INTERNACIONAL PROTETORA DOS ANIMAIS
Exposição apresentada em ASSEMBLÈA GERAL DE INSTALLAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO EM 30 DE MAIO DE 1895 pelo Dr. Ignacio Wallace da Gama Cochrane
Minhas Senhoras!
Meus Senhores!
Permitti que ao inaugurar-se, entre nós, a primeira Associação em defeza dos animaes, eu comece agradecendo-vos por haverdes tão benevolamente acudido ao nosso appello; e, convosco, me congratule pela selecta reunião, que hoje se realisa no intuito de preencher uma lacuna assaz sensível e capaz de comprometer os créditos de que, merecidamente, goza a capital de um dos mais florescentes Estados da Terra de Santa Cruz.
Frequentes e repetidos são ainda, infelizmente, os máos-tratos, os actos de verdadeira crueldade infligidos aos animaes, em detrimento dos proprios donos; offerecendo, ao publico, repugnamtes espectaculos e tristes exemplos aos nossos filhos, aos quaes poderão acarretar, mais tarde, funestissimas consequencias!
Por honra nossa, cumpre afirmal-o, não tem cessado a imprensa local de clamar contra esses abusos, profligando-os com a maxima energia, sempre que são elles levados ao seu conhecimento.
Por outro lado, existem já algumas leis que os prohibem comminando penas aos infratores ; mas alem de incompletas, não tem ellas produzido seus salutares effeitos, por falta de devida execução.
Promover, portanto, não só a decretação de outras leis e medidas complementares, mas auxiliar efficazmente o poder publico, para que , fiel e rigorosamente, sejam observadas e respeitadas as disposições legaes, é uma necessidade que se impõe e que, só por meio de uma associação, interessando o maior número, poder-se-á conseguir.
Já era tempo de ser ella entre nós installada, a exemplo do que, há muito, tem praticado as nações cultas, como ides ver pelo ligeiro historico, que pedirei licença para offerecer-vos.
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Há 84 annos, pela primeira vez, se fez ouvir na Camara Alta de Londres, uma voz generosa e compassiva em prol dos seres inferiores da Creação: foi a do benemerito Lord Erskine que, movido por nobilissimos sentimentos, alli pedio, em 1811, só Justiça para indefesos animaes que, a troco de serviços prestados ao homem, recebiam máos tratos e eram sujeitos a penosos trabalhos e soffrimentos!
Tão justo quão humanitário pedido foi, entretanto, accolhido n’aquella casa do Parlamento Inglez com o sarcasmo, com o ridiculo, sinão com apupos e assovios!
Ainda assim, Senhores, a preciosa semente não cahira alli em terra sáfara; ella devia forçosamente germinar, como germinou, e produzir, mais tarde, o desejado fructo no seio d’aquelle povo, cujo progresso, na phrase do eminente publicista, é e foi sempre profundamente moral, essencialmente religioso em toda a extenção de seu curso!
De facto, destacando-se da immensa massa dos indifferentes á sorte dos miseros brutos, surgiram algumas almas compassivas, alguns corações generosos que, desde logo, encetaram a gloriosa campanha procurando: pelo exemplo, pelos conselhos, pelas prédicas, pela educação, incutir no animo de seus semelhantes os nobres sentimentos que os animavam.
A esforços de Martin foi, em Junho de 1822, votada pelo parlamento a primeira lei em defeza dos animaes: “ Act to Provent the cruel and improper treatment off cattle”, conhecida por “Martin’s Act”, em honra ao seu promotor…
Não tardaram, entretanto, os benemeritos propagandistas a reconhecer que: só por meio de uma Associação, concentrando seus esforços, dirigindo-os, applicando-os combinadamente; constituindo, em summa, um centro de acção, poderiam conseguir a realisação de seus anhelados intuitos.
Em 16 de Junho de 1824 fundaram “ The Society for the Prevection os cruelty to animals”, hoje ramificada por todas as cidades do Reino Unido e que conta nada menos de 71 annos de existencia e outros tantos de assignalados serviços á humanidade.
Ao installar-se a Sociedade, foi adoptado como plano de suas operações:
1) A distribuição, em larga escala, gratuita ou por infimo preço, de folhetos contendo instrucções e conselhos, especialmente dirigidos aos criadores, aos cocheiros, carroceiros; a todos, finalmente, que tinham de lidar com animaes.
2) A introducção, nas escolas, de estampas e livrinhos destinados a imprimirem no animo das crianças o dever de humanidade, estendendo-se aos seres inferiores.
3) Despertar a atenção do povo em favor d’esse assumpto ( que tanto o interessava quanto por elle era negligenciado), por meio de repetidos annuncios, publicações, praticas e conferencias publicas.
4) Distribuir, pelas praças e ruas, agentes incumbidos de evitarem a pratica de abusos e de actos de crueldade, promovendo, ao mesmo tempo,
5) A punição dos que em flagrante delicto eram encontrados; e dando immediata publicação dos processos contra elles instaurados, com os respectivos resultados.
Trabalhando com verdadeiro afan e tenacidade , viram, desde logo, coroados seus esforços do mais brilhante sucesso.
Ao ridiculo, com que fôra recebida a idéia em 1811, succederam as adhesões espontaneas, os applausos, os mais significativos testemunhos de apreço e de consideração.
Em 1835, offerecia-lhes a Rainha Victoria seu valioso patrocinio; e em 1840, conferia á sociedade o prefixo de “Real”.
Este exemplo, partido do alto, foi immediatamente seguido pela Duqueza de Kent, pela Nobreza, pelos mais distinctos membros das duas casas do Parlamento.
Prosseguindo em seu meritorio empenho, os Membros da Sociedade visitavam as escolas, distribuindo livrinhos ás crianças e, entre ellas, organizando associações congêneres, appelavam para os preceptores para os parochos, para as mães de família, compenetrados de que é no berço que se inoculavam as verdadeiras crenças e sãos principios, que jamais se apagam e, ao contrário, cada vez mais se robustecem.
Faziam conferencias publicas, afixavam maximas e disticos appropriados; ao passo que, em profusão, distribuiam folhetos e jornaes, exclusivamente destinados á propagação de suas idéas.
E dest’arte, foram-se gradualmente modificando os costumes, rareando os máos tratos, enquanto se avolumavam o numero de socios e de cooperadores, cada um dos quaes se constituia um verdadeiro missionario.
Ao celebrar o seu 1º jubileo, foi a Real Sociedade distinguida com a seguinte carta, a ella endereçada em nome da Rainha:
“ Palacio de Buckinghan, 19 de Junho de 1874
Meu caro Lord,
Ordenou-me a Rainha que a vós, como presidente da Sociedade Preventiva de crueldade contra animaes, me dirigisse pedindo-vos que, ao celebrar-se o jubileo da mesma sociedade e a reunião em nosso país dos diversos representantes de Associações congeneres estrangeiras, torneis publico o vivo interesse de Sua Majestade para que sejam bem succedidos os esforços empregados no intuito de impedir os actos de crueldade contra animaes.
A Rainha horrorisa-se quando tem noticia de soffrimentos inffligidos a esses seres da Creação; assim como estremece diante das experiencias a que são elles sujeitos, mesmo em proveito da Sciencia.
Para obviar os primeiros, muito confia a Rainha nos progressos da educação; e com relação ás pesquizas scientificas, conta que, as vantagens offerecidas pela descoberta de anesthesios, aliviando os soffrimentos humanos, se tornarão extensivas aos animaes inferiores.
Sua Majestade vê com prazer que a Sociedade procura interessar a mocidade em favor do assumpto, conferindo premios aos que, em relação a elle, se distinguirem; e, com a mais viva satisfação, soube que seu filho e nora vão testemunhar seu apreço e sympathia, incumbindo-se da distribuição d’esses premios perante a Assembléa.
Sua Majestade deseja, outrossim, que vos communique o seu offerecimento de 100 guinéos, destinados aos fundos da Associação.
Sou , meu caro Lord,
Com toda a sinceridade vosso
Ao Conde de Harrowby
Cavalheiro da Ord. da Jarreteira
T. M Biddulf”
Por esforços da Real Sociedade foram successivamente promulgadas leis em 1835, 1839, 1844, 1845, 1849, 1854, 1861, 1863, 1864, 1865, 1867, 1871, 1876, 1878, 1880, 1885 e 1887, prohibindo corridas de touros, brigas de gallos e outros espectaculos barbaros; reprimindo e punindo quaesquer abusos, actos de crueldade, e até o emprego de cães, como animaes de tiro ou de carga.
A Sociedade é regida por um Conselho Director, composto de nobres cavalheiros e de distinctissimas senhoras, incumbindo-se estas da parte relativa á educação litteraria.
Si voltarmo-nos para outras capitaes das nações cultas, em todas ellas encontraremos associações congeneres, ramificando-se por todas as cidades importantes, produzindo identicos fructos, de par com os mais relevantes serviços.
Na impossibilidade de prestar minuciosas informações sobre todas ellas, limitar-me-ei a citar algumas de que pude obter noticia mais circunstanciada; a saber:
< Der Deutsche Thierschutz-Verein >, de Berlin, fundada a 6 de outubro de 1841.
< La Société Protectrice des Animaux >, de Paris, fundada em 1845, reconhecida de utilidade publica por Decreto de 22 de Dezembro de 1860.
Em França, desde 1812, foram prohibidas as corridas de touros. É de todos conhecida a lei de 2 de Junho de 1850, denominada < Lei Grammont>.
Em 1878, por ocasião de reunir-se em Paris o Congresso das Associações Protectoras, nacionaes e estrangeiras, foi fundada a “ L’ Union Protectrice des Animaux”.
Na Suissa, entre outras, contam-se “ La Société Génévoise pour la Protection des Animaux”, fundada em 23 de fevereiro de 1868, uma das que mais se tem distinguido pelos serviços prestados; e as de “Lausanne”, “Nyon”, “Rolle”, “Chateau d’Ex” e de “Fribourg”, as quaes constituiram, mais tarde, “ L” Union Romande des Sociétés Protectrice des Animaux” .
“ La Sociedad Madrilena Protectora de los Animales y de las Plantas”, fundada em 1874.
A “ Sociedade Protectora dos Animaes”, de Lisboa, fundada em 1875
“ La Sociedad Argentina Protectora de los Animales”, fundada em Buenos Ayres em 1881; declarada de utilidade publica e reconhecida como pessoa jurídica pelo Decreto de 11 de abril de 1882. Tem, como filiaes, as sociedades de “ La Plata”, fundada em 20 de Setembro de 1886; a do ‘Rosário”, em 23 de Janeiro de 1889, e a de “San Nicolas”, em 21 de Junho de 1893.
Nos Estados Unidos, entre as muitas, citarei a de Massachussets, que tem, como seu Vice-Presidente, o Governador do Estado.
Em Venezuela, fundou-se em 1894, a Sociedade, por iniciativa da Ex.ª Esposa do Ministro Brasileiro alli acreditado.
Finalmente, mencionarei a de Santos fundada em fins de 1894.
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Por toda a parte têm estas Associações encontrado o mais decidido apoio dos poderes publicos; já pela promulgação de leis, regulamentos, posturas, etc; já declarando-as de utilidade publica, como vimos; já dando-lhes força e prestigio por todos os meio ao seu alcance.
Em França, por ordem do Ministerio da Instrucção, são espalhadas e distribuídas pelas escolas, as publicações feitas pela Sociedade Franceza, chamando a attenção dos professores para o verdadeiro alcance da educação, no sentido de incutir nos animos infantis os sãos principios da benevolencia e de cordura para com os animaes, ao passo que são distribuidas medalhas de ouro, de prata e de bronze aos que mais se distinguem no tratamento.
Na Inglaterra, na Suissa, nos Estados Unidos, são também conferidos premios aos alunnos pelos serviços que prestam, pelos trabalhos que apresentam, com relação ao assumpto.
Segundo affirmou Monsenhor Donuet, arcebispo de Bordeaux, os Parochos das diversas Dioceses em França, quando preparam os meninos para receberem a primeira communhão, induzem-nos á promessa de que jamais farão mal aos animaes .
E bem se comprehende , Senhores, a razão d’esse incentivo, e do valioso auxilio por parte das auctoridades; porquanto os serviços prestados por tais Associações, seus fins, seus intuitos, têm um fundamento essencialmente moral e humanitário; porque tudo reverte em proveito do proprio homem; já pelos effeitos da educação, que lhe modifica a indole e os máos instinctos e até prevenindo males e perigos que dos máos tratos podem resultar á saude publica, como o tem constatado os mais eminentes homens da sciencia, com relação á influencia exercida pelos máos tratos sobre a carne e o leite, tomados como alimentação.
Vêdes, pois, que já era tempo de organisar-se entre nós, uma associação d’estas.
A capital de São Paulo não podia, não devia, por mais tempo, conservar-se extranha aos elevados sentimentos de humanidade, por aquelle meio, attestados em todos os centros civillisados.
N’este sentido, damos hoje o primeiro passo, é certo; mas firmemente convictos de sua segurança, que nos augura infalliveis e preciosos fructos.
Para tanto, só era preciso que, dotado de bôa vontade, alguem tomasse a iniciativa; porque certas eram as adhesões com os quaes, de ante mão, devia contar, por parte da generosa população de São Paulo.
E, a gloria dessa iniciativa, cumpre-me proclamar bem alto e deixar aqui consignado, coube ao honrado cidadão suisso Snr Henri Ruegger como ides vêr.
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Foi ele quem , no anno de 1893, impressionado por doloroso espectaculo presenciado nas ruas desta cidade, recorreo ao “Diario Popular”, onde, por sua distincta redação, foi accolhido com aquella gentileza e nobre solicitude sempre dispensadas em prol das causas justas e do verdadeiro interesse publico. Nesse mesmo dia apparecce, naquelle orgam de imprensa paulista, o primeiro artigo, no qual o illustre Snr. Dr. Furtado Filho levantou e defendeo brilhantemente a idéa de uma Associação Protectora dos Animaes.
Sinto não ter podido obter um exemplar do Jornal em que foi inserido o artigo, para dar-lhe o devido lugar nos archivos da Sociedade.
Em 12 de Janeiro de 1894, ainda o mesmo Snr. Ruegger dirigio á ilustrada redacção do “ Commercio de São Paulo” uma carta sobre o assumpto, a qual foi igualmente accolhida, occupando lugar de honra nas columnas daquelle Jornal.
Mais tarde, honrou-me com sua visita o distincto cidadão suisso, acompanhado pelo honrado commerciante Snr. Jacques Vigier, convidando-me a auxilial-os na generosa propaganda.
Embora fazendo-lhe préviamente sentir que, a outros de maior valia, deveria de preferencia recorrer, accodi gostosamente ao convite, promettendo meus fracos serviços e maior bôa vontade.
Recorrendo ainda ao “Diario Popular”, alli apparece em 20 de Outubro de 1894, a notícia de haver-se constituído uma commissão para levar a effeito a idéa da organisação da Sociedade; e emquanto mandavam-se vir os estatutos, regulamentos e outras informações relativas a Associações congeneres, espalharam-se algumas listas, para a inscripção de socios.
A 1º de Março do corrente anno, ao encetar o honrado cidadão americano Dr. E. Vanorden, a publicação de seu periodico “ A Opinião”, destinado a defeza dos interesses sociaes, franqueou-me as columnas de seu jornal, onde publiquei despretencioso artigo, sustentando a necessidade da Associação e expondo seus nobres intuitos.
A idéa havia sido benevolamente acceita; encontrava adeptos que promptamente se inscreviam, animando nossos esforços, até que ainda o Snr. Ruegger poude fornecer todos os esclarecimentos, que conseguio obter de Associações estrangeiras, os quaes serviram de base à organisação do Projecto de Estatutos, que vae ser hoje submettido a á vossa decisão, tendo sido graciosamente impresso nas officinas do distincto Snr. Dr. Horacio Belfort Sabino.
O referido projecto foi combinado e discutido em reunião de 12 do corrente, á qual assistiram os Snrs. Dr Joaquim da Silveira Cintra, Dr. Fernando de Albuquerque, Dr. Horacio Belfort Sabino, Henri Ruegger, Jacques Vigier, que, com o abaixo assignado, constituiam a Commissão provisoria.
Por motivo justificado, deixaram de comparecer os Snrs. Dr. Pedro de Vicente Azevedo. Dr. Domingos Jaguaribe, Dr. Furtado Filho, Dr. Alonso da Fonseca, Dr. Vanorden e Tenente Leite Sobrinho, offerecendo todos, entretanto, sua inteira adhesão e valioso apoio; e declarando o último, por parte do “Club de Caça e Pesca”, que franqueava os salões do mesmo Club á sociedade, para nelles celebrar suas reuniões.
Nas diversas listas acham-se inscriptos dignos representantes dos poderes publicos, da imprensa, distinctos cidadãos nacionaes e estrangeiros, generosas senhoras, de cujo valioso concurso não pôde prescindir a Associação, como jámais o tem dispensadoas congeneres até hoje fundadas.
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Ao terminar o artigo, publicado na “ A Opinião” appellei para ellas, nos seguintes termos:
“ Unamo-nos todos para a formação e prosperidade desta Associação; tomem-n’a , sobretudo, sob seu generoso patrocinio as senhoras, as mães que, na familia e pela familia, exercem poderosa influencia na Sociedade”.
“Ellas que, melhor comprehendendo as dôres humanas, melhor sabem, por isso mesmo, applicar-lhes o balsamo consolador e efficaz, não recusarão estender sua protecção aos seres inferiores da Creação; a exemplo do Divino Mestre que, vindo ao Mundo para salvar a humanidade, não se desdenhou de ir abrigar-se n’um estabulo, entre aquelles mesmos seres, que tambem eram creaturas de um só Deus”.
Relevai, Snrs, que agora renove aquelle appello quem, nos transes da vida, só tem encontrado alento nas crenças, que lhe incutiu, no berço, a mãe virtuosa.
Permitti que justificando esse appello, eu invoque e vos recorde inspiradas phrases do notavel publicista, quando dizia:
Si os gentios, esquecidos das divinas tradições, só viam na mulher a causa de todos os seus males, e, por isso, della faziam vil instrumento de suas paixões, victimas innocentes de seus furores, já os hebreus, comprehendendo a santa missão da companheira do homem, do anjo tutelar da familia, fundamento eterno das associações humanas, sabiam amal-a, respeital-a e eleval-a mesmo acima do homem. Não se limitaram a offerecer-lhe o doce sceptro do lar domestico, confiaram-lhe tambem a bandeira victoriosa dos combates e o governo dos Estados; e, isto porque, sobretudo, viam na mulher o templo, onde devia habitar o Redemptor do genero humano!
Aos hebreus, as virgens de Israel pareciam baixar dos Ceos para consolação da terra, quando em coro entoavam, nas praças publicas, sagrados canticos!
Para elles, nos tristes dias de escravidão, mais sensível era a ausencia das nobres e castas filhas de Sião, do que a perda da liberdade, do que o exilio da patria, porque, sem ellas, frio era o sol, sem harmonia os proprios sagrados canticos!
Os exilados, pois, enxugando suas lágrimas, abafando seus gemidos, penduravam, por imprestaveis nos salgueiros de Babylonia, as harpas que já não deferiam sons.
E tinham razão… porque, como dizia o inspirado escriptor, para conhecermos a mulher por excellencia, para formarmos idéa de sua influição sanctificadora , não basta recorrermos aos bellos typos da poesia hebraica; seu verdadeiro typo não se encontra em Rebecca, em Debora, em Judith, nem mesmo na esposa do Cantico dos canticos, qual odorifera taça a espargir perfumes. É preciso irmos buscal-o mais longe, mais alto, junto ao throno resplendente de Maria!
E, em Maria, Deus sanctificou todas as mulheres: as virgens, porque ela foi Virgem; as esposas, porque ella foi Esposa; as viuvas, porque ella foi Viuva; as filhas, porque ella foi Filha; as mães, porque ella foi Mãe!
Pois bem, Senhores. É a mãe, assim sanctificada, que incumbe a educação dos filhos; é na educação d’esses filhos que constituem as sociedades humanas, que assenta a felicidade dos povos!
São Paulo, 30 de Maio de 1895
Ignacio Wallace da Gama Cochrane